31 de maio de 2011

Zé Cláudio

Até há bem pouco tempo o nome Zé Cláudio era-me completamente desconhecido, ou seja, não era um qualquer famoso ou vedeta a quem associasse uma cara ou uma obra.
Hoje conheço o nome e sei que era de um notável Homem com um “H” enorme, digo era porque infelizmente no passado dia 24 de Maio, Zé Cláudio e a esposa foram assassinados a tiro.
Zé Cláudio era um colector de castanhas e activista que defendia a preservação da Amazónia, insurgindo-se e denunciando o abate ilegal de árvores, feito por uma indústria madeireira cujas mãos estavam já manchadas de sangue. Nos anos oitenta, Chico Mendes e mais recentemente a Irmã Dorothy Stang, também eles defensores da mesma causa, tinham já pago com a vida, a sua valentia.
Zé Cláudio tinha, naturalmente, medo de morrer, disse-o várias vezes e avisou também ter a noção de que um dia iríamos ouvir a notícia da sua morte desta forma, mas não foi por isso que abdicou dos seus princípios e da sua luta. Morreu de pé, tal como deviam morrer as árvores que defendia.


30 de maio de 2011

Luva branca


Como é da praxe, após o almoço, leio sempre a bíblia jornalística, vulgarmente conhecida por “Record”, enquanto acompanho os telejornais. Hoje não foi excepção, por entre um folhear de hipotéticas contratações de pré-época lá dei uma espreitadela numa notícia que me prendeu a atenção, não por ser novidade, mas pelo motivo da reportagem.
A notícia estava relacionada com a badaladíssima sova que duas moças deram a uma terceira, mais concretamente, a entrevista à avó e pai da rapariga que se encontra em prisão preventiva.
A certa altura a jornalista pergunta ao pai se concordava com a possível condenação visto ser notória a sua culpa, momento em que ele faz um pequeno compasso de espera antes de responder. Por esta altura começo eu a ganhar balanço para me revoltar com o seu, mais que previsível não, e eis quando o dito senhor saca da sua luva branca e esbofeteia toda a gente, incluindo eu, respondendo “não gostava de ver a minha filha no chão a apanhar daquela maneira”! Parece-me óbvio que, implicitamente, afirmou que não tem como não concordar, tendo em conta o comportamento animalesco da filha.
Com esta resposta comovida, fiquei completamente desarmado! Claramente aquele pai a par da avó podiam não ter sido bem-sucedidos no resultado da educação da miúda, mas não seria por certo pela ausência da justiça, no lote de valores que lhe incutiram.

28 de maio de 2011

Blogging


Há já algum tempo que andava a pensar criar um blog, mas por dois ou três motivos nunca o tinha chegado a concretizar. Tinha, por exemplo, algumas dúvidas em relação à pertinência do “meu” blog, isto porque, não há um tema em que eu seja um distinto expert ou uma causa a que me alie extraordinariamente. Para além disso havia também a falta de tempo, que numa fase inicial se prendia com o facto de eu ser um atleta de alto rendimento nesse desporto radical, que é o Mapling e mais recentemente com as responsabilidades parentais.
O Mapling é uma actividade de elevado grau de exigência física, desaconselhadíssima pelos Médicos, pelo risco de originar grande rigidez nas articulações e um sobre-desenvolvimento da zona abdominal, com as inevitáveis consequências para os praticantes. Como atleta de elite nesta disciplina, sujeito a treinos diários intensos, geralmente acumulando também com o Zapping, actividade de grande desgaste para o polegar, não reunia naturalmente disponibilidade mental para as andanças da blogosfera.
No final de Setembro, recebi uma chamada de Paris a informar que uma cegonha viajava na direcção da nossa morada, com um Tesourinho para nos entregar. Vi-me forçado a abrandar a prática da modalidade, mas nem assim a rentabilidade do tempo aumentou, muito pelo contrário, passaram a haver as responsabilidades parentais que são uma esponja cronológica.
Por estes dias, vá-se lá saber porquê, o desejo de enveredar por uma nova modalidade, o blogging, começou a ser mais permanente e como mais vale arrependermo-nos por ter feito do que por não ter feito, ora nem é tarde nem é cedo, clique para aqui, clique para ali, clique para acolá e já só faltava escolher o nome do recinto para o exercício.
A escolha do nome até nem foi uma tarefa transcendente, as ideias foram surgindo e foram-se anotando as menos… parvas, o mais complicado foi um desses nomes estar ainda disponível. Após várias tentativas, algumas delas com nomes no mínimo rebuscados, lá apareceram as “Crónicas de um Fulano”. Haja conversa!